quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O rock vai bem, obrigado!

Identidade em seu primeiro show em solo argentino
Para um público formado quase que exclusivamente por amigos e familiares, a banda Supermartir encerrou seu show com direito a bolo de aniversario para seu vocalista, cumpleaños feliz e porções de pipoca em cada uma das mesas. A parte superior do La Viola Bar, em Buenos Aires, comporta, com algum esforço, umas 60 pessoas, quase que impossibilitadas de se mexer. Quatro telões, dois na parte de cima e dois na área inferior do bar, garantem o mínimo de conforto para os clientes interessados nos shows.

E verdade seja dita, a exceção dos amigos e familiares do vocalista da banda local, são poucos os curiosos nativos com algum interesse no show da banda seguinte, os brasileiros da Identidade (atração do nosso Chá das Cinco do ano passado). Acontece que, como num passe de magica, talvez embalado pela energia de uma quase e improvável reencarnação de Mick Jagger e do groove desconcertante da cozinha, suingada pelas baquetadas firmes de Julio Sasquatt, os neófitos em terras portenhas, arrancam, um e depois dois e três, e em pouco tempo, uma sucessão de aplausos e urros, transformando o cubículo em que se apresentavam numa explosiva sala de celebração ao rock.

Porque quando os cinco brasileiros emendam o riff e o refrão de “It`s a long way to the top, if you wanna rock n' roll” do AC/DC, durante a execução triunfal do seu próprio clássico “Jogo sujo”, a catarse é generalizada e entre as porções de pipoca e as doses de fernet com Coca-Cola, os olhos e sorrisos presentes mesclam hipnose com o embalo de pernas e quadris que se agitam impossibilitadas de permanecer paradas num só lugar.

E talvez aquela altura da noite, com a madrugada ganhando vida sob um vento frio cortante, não restasse outra certeza senão que o rock, esse setentão boa pinta, vai muito bem, obrigado.

La Plata "perdeu a cabeça" com show energético da Identidade.

Tal afirmação fica ainda mais obvia, em se pensando que no dia seguinte, a terra natal desses caras de Identidade tão despojada, daria o pontapé inicial para mais uma edição do Rock in Rio, e que por uma dessas peripécias da vida, vira também oportunidade para uma segunda apresentação em terras argentinas, desta feita em La Plata, conhecida e cantada como a cidade mais rocker de toda Argentina.

E ai, enquanto Brian May desfilava seus riffs na capital do rock, Lucas Hanke e Doce Solano duelavam em sincronia perfeita cuspindo suas obras certeiras nos rostos, outra vez boquiabertos e fazendo pela segunda vez, a Argentina “perder a cabeça”. E se a imensidão de roqueiros de sofá iniciava sua verborragia insignificante contra o substituto de Freddy Mercury, as palmas ao final de “Jogo sujo”, ganhavam proporções ainda mais emblemáticas, num flerte sem compromisso com o infinito.

Porque sim, antes da terceira noite e do show do Metallica no Rock in Rio e da nossa querida Vintage no pub mais amado de todo oeste baiano, nos confins de uma casa de shows old school da capital argentina, uma banda de brasileiros, com sangue nos olhos e rock nas veias, deixava claro, de uma vez por todas, que o rock – e não poderia ser de outra forma – vai – e sob a benção de Chuck Berry - muitíssimo bem.


Obrigado!

domingo, 21 de dezembro de 2014

Como comprar meu livro

Não perca tempo, compre e dê livros de presente. A gaveta do alfaiate está a sua espera.


Isso não é um tutorial. É um tira-dúvidas. Bom, como vocês devem saber, lancei oficialmente e com direito a lágrimas e uma quase câimbra na mão direita, meu primeiro livro de crônicas A gaveta do alfaiate. Acontece que tem muita gente me perguntando ou em dúvidas sobre como e onde adquirir o livro.

Por isso deste texto. Vamos lá.

Em Luís Eduardo Magalhães, o livro está a venda na banca de revistas da Praça Matriz Sérgio Alvim Motta. Por ora é o único lugar a vender o livro oficialmente na cidade, uma vez, não termos uma livraria decente – tampouco uma indecente – para tal.

Há também a possibilidade de você – que ainda não comprou o livro – comprar diretamente comigo, o autor da obra. Pra isso é fácil. Nas redes sociais tenho um perfil e uma fanpage. Faça seu pedido. Levo até você (só para os casos de moradores de Luís Eduardo Magalhães).

Os interessados no livro que moram longe, em outros estados, podem, também, fazer seu pedido diretamente comigo, ou por e-mail: antonroos@gmail.com. Nesse caso, se quiser adiantar. Deposite R$ 35 (incluso despesas de correio) na conta Conta Corrente 6.903-5 Agência 4624-8, Banco do Brasil, em meu nome e envie o comprovante do depósito/transferência, bem como seu endereço completo para envio do livro.

Em breve, espero estar com A gaveta do alfaiate também em Barreiras. Por ora, me contatem, que providenciamos a entrega do livro.

Espero ter sanado todas as dúvidas.


A gaveta continua aberta, a sua espera.

sábado, 20 de dezembro de 2014

O salva-vidas da sunga e boné vermelho

Minha coluna para a edição 26 da Revista A

 A morena era miúda, meio sem graça, e estava quase escondida na cadeira. Como se fosse, a qualquer instante, ser engolida. Sugada para um compartimento oculto entre o tecido e a madeira envernizada. A cadeira, a propósito, era uma daquelas de veraneio que não levamos a praia, mas abrimos garbosamente na frente de casa para tomar chimarrão, comer pipoca ou, apenas, observar a vida seguir seu rumo diante do nosso nariz.

Bem assim.

Quiçá, enquanto nos deleitamos com o passar preguiçoso do tempo a observar as nuvens – primeiro – brancas, se tornarem cinza e depois escuras e você, meio que imberbe, não ter escapatória e, num rompante de nada melhor a dizer, simplesmente, colocar pra fora:

- É, acho que vai chover.

E choveu.

Antes.

Não enquanto a morena miúda esteve sentada ao meu lado. É possível, não dá pra descartar a hipótese, que as nuvens passaram do branco pro cinza e depois para uma escuridão medonha, por culpa dela. Sim. Do desânimo com que ela se prostrava meio que pedindo para ser sugada para dentro da cadeira. Para um universo paralelo quem sabe. Porque ela era só desânimo. Com direito a mão segurando o queixo e olhar vago e distante.

Triste de se ver.

Tanto que me arrisquei, sabe-se lá porque motivo e a indaguei:

- Tá triste?

A interrogação ganhou vida porque de certa forma, era preciso que eu questionasse a morena miúda e, por qualquer que seja a razão, tentasse extrair dela, todo aquele desânimo. Tipo o salva vidas de sunga e boné vermelho que se lança ao mar para socorrer o idoso desatento e acaba, por obrigação de ofício, tendo de fazer boca a boca nos lábios já enrugados e começando a ficar tão roxos que a sombra da foice da Dona Morte por pouco não se eterniza a areia da praia.

E ela, a morena miúda:

- Sim.

Com o idoso desatento começando a regurgitar toda água engolida no fatídico mergulho que não deu certo, eu, o salva vidas de sunga e boné vermelho, acho por conveniente que poderia continuar aquele diálogo, afinal, as nuvens nos céus eram de uma negritude alarmante e, grosso modo, não havia nada que pudesse perder ali, sentado a dois, talvez três palmos da morena miúda.

Foi então que eu disse:

- Sabe, não vale a pena.

E ela riu.

Sim.

A morena miúda riu.

E ainda olhou para mim e pela primeira vez percebi que ela não seria engolida pela cadeira, nem ficaria presa num universo paralelo. Ela precisava apenas de alguém para conversar, mesmo que um estranho de cabelos ralos, barba aparada e dentes separados na frente que em nada lembrava um salva-vidas de sunga e boné vermelho.

O importante no entanto é que antes de encerrar a conversa, prolongada por cinco, talvez dez minutos, a morena miúda, me olhou meio que de lado e disse, com todos dentes brancos a mostra:

- Você me fez rir.

Acho até que só não agradeceu por esquecimento. Puro esquecimento.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

10 vezes Rrummm


Quando ela começou a falar sem parar, por um instante hesitei tentando entender as razões daquele sermão.

Observei e não só isso. Deliciei-me com seu bombardeio.

Sim.

Eu, se pudesse, deixaria que ela falasse e me xingasse, daquele jeitinho, por horas.

No máximo, faria algum esforço para controlar o riso e o acelerar descompassado das batidas cardíacas, aquela altura tomadas de uma excitação juvenil.

- Quem é essa morena de covinha no queixo?

Há muito não assistia uma cena de ciúmes tão bela.

Tão excitante.

Se já não lembro com exatidão as palavras usadas por ela. Lembro-me da boca abrindo e fechando com suavidade, dos olhos franzidos, do dedo indicador em riste e, claro, daquilo que é tão dela:

- Rrummm.

Pois ela, a ruiva de óculos de armação, eternizada em crônica – fantasiada dediabinha – me fuzilava com uma sequência fulminante de cobranças, de queixumes, como se só ela pudesse existir no meu mundo ficcional.

Ah, regozijo-me de prazer, novamente, só de lembrar.

E que fique claro, não foi apenas um ou dois, foram mais de dez, ao menos até onde contei. Dez rrumms.

Dez.

Assim:


Rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm, rrummm.

domingo, 23 de novembro de 2014

O exemplo de Neil Peart


A capa da edição brasileira de A Estrada da Cura

No dia 20 de agosto de 1998 a maioria do povo brasileiro mantinha acesa a certeza que o país vendera a Copa do Mundo para a França e que o episódio envolvendo Ronaldo Fenômeno pouco antes da final no Parque dos Príncipes não passou de uma covarde simulação. A bem da verdade, essa fábula perdura até os dias de hoje e por mais incrível e bizarro que possa ser, ainda existem pessoas espalhadas por este país, que de fato, acreditam que o time do Zagallo entregou a taça de mão beijada pros onze liderados por Zinedine Zidane.

Na manhã daquela quinta-feira chovia em Quebec no Canadá e é bom que se diga poucas pessoas a não ser as mais íntimas sabiam das intenções do homem, então com 46 anos, que observava a escuridão das primeiras horas da manhã enquanto espremia laranjas, cozinhava ovos, passava café e preparava torradas. Um número muito reduzido de pessoas, inclusive seus fãs, poderia imaginar que ele se preparava para iniciar a mais difícil viagem de sua vida, talvez a mais importante e que acabou se transformando em exemplo mundial de superação.

Pouco mais de um ano antes, em 10 de agosto de 1997, Peart e sua esposa Jackie foram surpreendidos com a chegada de uma viatura da polícia e a notícia que a filha Selena acabara de perder a vida em um acidente automobilístico. Imagine você, num piscar de olhos, ver seu mundo desmoronar, sem qualquer chance de se despedir ou evitar o pior. Simplesmente, ter aquilo que mais ama arrancado do seu convívio da maneira mais estúpida possível. Agora imagine a relação com sua mulher desmoronar como um castelo de cartas e, além dela esboçar pouca ou nenhuma reação e aos poucos se entregar e, alguns meses depois, também vir a morrer.

Naquela manhã de chuva na mais antiga das cidades canadenses, Peart iniciou uma viagem de 90 mil quilômetros montado em uma moto. Uma viagem sem destino definido, sem um objetivo específico, mas que se traduzia, tão somente, na busca de alguma razão para continuar vivendo. Não fosse tal decisão, quiçá o baterista do Rush tivesse encontrado forças para voltar aos palcos e continuar com sua carreira e sua vida. Talvez o mais difícil: seguir em frente.

Não foram poucos os momentos daquela viagem em que os pensamentos turvos e o vazio infinito quase fizeram Peart retroceder. Desistir. Afundar-se ainda mais em sua própria amargura, sem que ninguém pudesse fazer nada para ajudá-lo. Porque, embora, façamos esforços descomunais para transparecer fortaleza, no fundo, não passamos de seres humanos. Frágeis e incapazes de lidar com a perda.

Numa carta escrita para o melhor amigo em meio a sua jornada, Peart sintetiza o momento vivido e o quão frágil somos todos nós. “Você não pode dizer a si mesmo como se sentir”. Não há fingimento ou sorriso amarelo que supere o que se passa no coração e mente de uma pessoa diante da necessidade de superar uma perda. Só o tempo e talvez, nem ele, sem que haja um esforço mínimo e no caso de Neil, uma viagem sem rumo em cima de uma moto.

O exemplo de Neil Peart não necessariamente significa que todos nós devamos montar em motocicletas e pegar a estrada para superar nossas maiores dificuldades. Não. O que talvez devamos fazer é procurar nos confins mais obscuros de nossa alma algo que nos mantenha vivos, pois não importa o tempo, um dia haveremos de encontrar paz novamente, da mesma forma que o gênio das baquetas encontrou.

Quatro anos depois daquela manhã de quinta-feira, o Brasil comemorava seu quinto título mundial no futebol e Peart voltava a estrada com o Rush.

sábado, 15 de novembro de 2014

Uma piscada marota pra atendente da gráfica


A atendente da gráfica que fala o nome do Alex de maneira engraçada disse essa semana, que A gaveta do alfaiate está em processo de impressão. Sinal que a espera pela chegada do livro está perto do fim. Só não marcamos oficialmente a data do lançamento, ainda, pois em se tratando de logística de transporte no Brasil, tudo – e nada – pode acontecer. Melhor esperar alguns dias mais para cravar a data, embora seja provável que façamos o lançamento na segunda semana de dezembro.

Até lá, aproveito para informar algumas coisas tolas aos interessados em adquirir o livro:

1 – Quem não residir em Luís Eduardo Magalhães e região e puder adquirir o livro diretamente comigo, pode reservar seu exemplar, enviando um e-mail antonroos@gmail.com, com nome e endereço. Ainda não defini o valor para quem mora “longe”, mas deve ficar em torno de R$ 35 pratas.

2 – No dia do lançamento o livro será vendido a um preço especial – a definir, com direito a autógrafo e foto com o autor (Putz, fiquei me achando o escritor com essa).


3 – Alex, da próxima vez que falares com a atendente que fala teu nome diga que mandei uma piscada marota pra ela.

Por fim, aguardem, que em breve postarei mais detalhes sobre o livro, o lançamento e tudo mais que esteja dentro da gaveta, aqui, na minha fanpage (da EX! Editora também) e da minha página pessoal no Facebook.

domingo, 19 de outubro de 2014

A íntegra do texto da contracapa

Algumas fotos da sessão para orelha do livro e prova da felicidade pela proximidade do lançamento do livro . Crédito: Claudio Foleto

Eis a integra do texto que pedi ao amigo e jornalista Luciano Demetrius para a contracapa do meu primeiro livro A gaveta do alfaiate, já que a edição impressa virá com o texto em tamanho reduzido.

Só tenho a agradecer ao amigo.

Abaixo, entra aspas.

***

“É clichê dizer que “o livro era tão bom que não consegui parar de lê-lo”. Discordo. Ou ao menos tento ir pela contramão. Se a obra me satisfaz, principalmente quando se trata de apanhado de crônicas, procuro diminuir o ritmo da leitura, retornar ao índice e verificar quantos textos restam para o seu final. Dói em mim saber que o tempo da degustação está se acabando. Sim, eu degusto livros tal qual um conhecedor de vinhos ou de pratos refinados. Ninguém devora vinhos ou bons pratos. Degusta-os. E eu não devoro livros. Causa mal-estar.

Admito que “A Gaveta do Alfaiate” não a li por inteiro quando o Anton Roos me entregou as cópias para revisão. Primeiro, porque já conhecia as confecções deste escritor. Depois, porque quero demorar a finalizar sua leitura. A demora será preenchida pelas repetidas lidas a um mesmo texto. E a cada degustação, um novo sabor permeado por aromas sutis. A linha de escrita de Anton é assim. Tem essência. Aguça nossa curiosidade e nos remete ao questionamento: “Estamos aqui por isso?”.

Os dilemas com as mulheres, as dúvidas quanto às incertezas nossas de cada dia e até a falta de traquejo para se deliciar da culinária japonesa motivam Anton Roos a escrever. E a nos alimentar. “Talvez, tenha chegado a hora de esquecer chave, gaveta e escritório do pobre alfaiate e dar um pouco mais de atenção para quem, embora não se canse de pensar e reclamar de enxaquecas e ‘talecoisa’, são tão únicas e especiais” descreve para encerrar a crônica que dá título ao primeiro livro deste sujeito mais Bukowski que conheço.


Aliás, citação de Bukowski no primeiro livro de Anton Roos pode ser traduzida em uma palavra: obviedade. Bukowski e Anton, sem exagero, são um só. Ou separados. Para nos confundir. E nos fazer lê-los. Relê-los. E nos indignarmos. Ou seria para nos transportarmos ao incerto que não nos é tão estranho? A palavra fica por conta deste alfaiate que eu não me canso de ler, mas o qual jamais quero acabar a leitura. E se você entender as crônicas desta gaveta, por favor, recomece. Ela precisa ser revirada quantas vezes for possível”.